As transações que envolvem o mercado imobiliário vão muito além dos anúncios, pesquisas, negociação e o ato da compra (ou venda), culminando com a entrega de chaves. O motivo é que o setor de venda de imóveis significa muito mais, tanto sob o ponto de vista de quem está vendendo como daquele que deseja comprar uma casa ou apartamento. No dia a dia, costumamos dedicar nossa atenção a questões técnicas como metragem, número de vagas na garagem, dormitórios, valor de condomínio e IPTU, idade do imóvel e outras inúmeras variáveis. E elas são importantes, sem dúvida.
Um imóvel, no entanto, representa muito mais do que isso para as pessoas. Nos imóveis existem histórias, tanto das pessoas que os ocuparam por um período, e agora estão se preparando para sair, quanto das que estão pesquisando ou mesmo comprando e se preparando para entrar. Por isso, comprar um imóvel é algo tão complexo. Não se trata de mera operação financeira. Quem deseja comprar quer ter, além da casa própria, um lugar agradável onde viverá sua história, receberá a família, os amigos, verá os filhos crescerem, passeará pelas ruas do bairro. Por tudo isso, precisa ser “o lugar”. Nos últimos dois anos, a dificuldade para encontrar e comprar um imóvel se acentuou em razão da grave crise econômica pela qual o País ainda passa, com aumento do desemprego, inflação alta e salários achatados. Também pesaram a redução da oferta de crédito imobiliário e incerteza sobre os rumos da economia, agravada pela grave instabilidade política que levou ao afastamento da presidente da República.
Na dúvida, muitas pessoas decidiram adiar projetos, entre eles, certamente, o de comprar um imóvel próprio, onde viveriam novas histórias. Este cenário contrasta, evidentemente, com o vivido entre 2008 e 2014, quando o mercado imobiliário passou por um período de aquecimento sem precedentes. Com a economia a pleno vapor, emprego em alta e ampla oferta de linhas de financiamento, as transações imobiliárias tiveram forte avanço. Nem tudo, porém, foram flores nesse período. Um dos entraves foi o fator preço. Os imóveis se valorizaram expressivamente. E muitos proprietários, já com propostas de compra, não raro decidiam aguardar um pouco mais para ver se conseguiam um comprador que pagasse um valor ainda mais alto.
Hoje, a situação se inverteu. E aqui cabe dizer que, ao contrário do que muitos previram no passado recente, não houve desvalorização desenfreada ou quebradeira em razão de suposta “bolha” que nunca existiu. Com a perspectiva de melhoria nos rumos da economia brasileira daqui em diante e a retomada do crédito imobiliário, as pessoas que desejam viver novas histórias e comprar imóvel voltaram a buscar um novo lugar para morar. Nos meses de julho e agosto deste ano percebemos um aumento de 30,4% no número de imóveis vendidos em São Paulo na comparação com o mesmo período de 2015. O valor médio dos imóveis vendidos no mesmo período deste ano na cidade foi de R$ 750 mil, e as unidades mais procuradas foram apartamentos de dois dormitórios localizados próximo ao metrô e com boa infraestrutura de lazer. A maior flexibilidade dos proprietários tem ajudado a acelerar as transações imobiliárias.
Se antes o vendedor ditava as regras, agora é o contrário. Com reduções entre 10% e 15% sobre o valor originalmente pedido pelo imóvel, os negócios voltaram a fluir. O mercado de imóveis usados tem, inclusive, vantagem em relação aos novos, e um dos principais fatores é o preço. Na comparação proporcional por metro quadrado, os usados costumam ser entre 20% e 50% mais baratos que os valores dos lançamentos. Sem dúvida, está em curso processo de retomada do mercado, o que está diretamente ligado à maior confiança dos brasileiros de que as coisas vão melhorar na economia, que o País caminha para reverter a crise e voltar a crescer. Assim, as pessoas, de forma gradativa, vão ficando mais decididas, as vendas começam a se concretizar com mais frequência e mais histórias são escritas na vida dos novos proprietários de imóveis.
Esse artigo foi veiculado no dia 02 de Outubro no Estado de S. Paulo.