O IGP-M (índice Geral de Preços Mercado) subiu 2, 94% no mês de março, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas) nesta terça (30). Em 12 meses, a inflação do aluguel – como o indicador é conhecido – acumula alta de 31,10%.
A variação mensal é a maior para meses de março desde o início do Plano Real, em julho de1994.N0 acumulado em 12 meses, o resultado deste mês só é menor do que o registrado em maio de 2003, quando o índice chegou a 31,53%.
A inflação do aluguel divulgada nesta terça terá efeito sobre os contratos de locação com vencimento em abril. Se o proprietário decidir aplicar integralmente o IGP-M, um aluguel de R$ 2.000 passará a custar R$ 2.622 no mês de maio.
Segundo a FGV, o índice continua sofrendo a pressão dos preços de produtos agropecuários. Em março, o efeito dessas altas se espalhou por todos os componentes do IGP-M, que subiram.
André Braz, coordenador de índice de preços, diz que a alta dos combustíveis neste mês contribuiu para a elevação de dois tipos de inflação que compõem o IGP-M, o IPA (índice de Preço ao Produtor Amplo) e o IPC (índice de Preços ao Consumidor).
No IPA, o óleo diesel registrou alta de 25,87% em março, e a gasolina, 23,81%, as duas maiores influências positivas. As commodities negociadas em dólar, como minério de ferro (2,68%) e soja em grãos (1,93%), subiram menos, mas ainda aparecem em elevação, ao lado de adubos e fertilizantes (14,32%).
As matérias-primas brutas, diz Braz, subiram menos em março – de 3,72%, em fevereiro, para 2,11%, neste mês – , mas elas acumulam elevação de 70,13% em 12 meses.
“Com uma alta tão elevada assim, elas contaminam outros estágios de processamento, chegando aos bens intermediários e finais.”
No IPC, os grupos com maiores elevações em março foram alimentos e transportes, com altas de 12,06% e 7,55%, respectivamente. A variação no mês foi de 0,98%.
A inflação da construção civil, o INCC, registrou alta de 2% em março, pressionada pelos preços de materiais, equipamentos e serviços, grupo de despesas que acumula elevação de 22,54% em um ano.
O coordenador de índice de preços da FGV diz que o IGP-M deve seguir em elevação pelo menos até o fim do primeiro semestre.
Apesar da aceleração do IGP-M desde 2020, o setor imobiliário diz que o repasse não está chegando integralmente aos contratos de aluguel, principalmente os residenciais.
A pesquisa de locação do Secovi-SP (sindicato da habitação) mostra uma elevação de o,8o%no valor médio dos aluguéis na capital paulista nos 12 meses até fevereiro. Para a entidade, a variação demonstra estabilidade e também a prevalência de negociações entre proprietários e inquilinos.
No IPC, que integra o IGP- -M, a variação dos aluguéis residenciais também mostra estabilidade, com alta de 0,88% em março.
Para Moira Toledo, chefe do jurídico da Lello Imóveis, esse descolamento dos reajustes médios em relação à inflação dos aluguéis demonstra a disposição dos proprietários em negociar a correção dos contratos.
“No ano passado, agente vinha de um ciclo de muitas renegociações em razão das restrições da pandemia. Quando veio a reabertura, o IGP-M disparou. Percebendo isso, a gente entendeu que era necessário estimular que as partes negociassem”, afirma.
Desde novembro, quando a Lello criou uma ferramenta digital de negociações, só 11% dos proprietários exigiram a aplicação integral do IGP-M nos contratos. Os demais se dividiram entre não reajustar (26%) , propor outro índice (29%) ou usar o IPCA (33,82%).
No início do ano, a Lello anunciou a substituição do IGP-M pelo IPCA como padrão nos contratos de locação. A medida já tinha sido adotada no ano passado pelo Quinto Andar, startup de administração de imóveis.
Segundo a empresa, 35% dos contratos firmados desde novembro, quando a mudança foi implementada, estão usando a inflação oficial como referência para o reajuste. O IPCA passou a ser o padrão, mas os proprietários ainda podem solicitar o uso do IGP-M.
Para o inquilino com contrato perto do vencimento, o ideal é se antecipar e já buscar a negociação com a imobiliária ou com o proprietário. Antes de fazer isso, porém, é recomendável verificar a média dos aluguéis na região em que mora.
Fonte: Folha de S. Paulo