Em busca de um apartamento de dois quartos na zona sul de São Paulo desde o ano passado, o gerente de engenharia Walmor Brambilla, 34, passou a ser disputado pelo mercado. “Com mais ofertas, os corretores e as incorporadoras, que já tinham meus contatos, passaram a me ligar, com descontos.”
Segundo dados do Secovi-SP (sindicato do setor imobiliário) apresentados na última semana, a cidade fechou 2014 com 27.255 imóveis em estoque –aqueles que não foram vendidos até três anos após o lançamento–, o maior número nos últimos dez anos.
O que é motivo de preocupação para as incorporadoras –que querem vender as unidades represadas logo– é oportunidade para quem busca sua casa. Mas é preciso garimpar descontos e escolher um imóvel que de fato atenda às necessidades.
“Se quem está interessado no imóvel tiver recursos e puder negociar, compensa comprar agora. Quem depende de financiamento, deve considerar que as condições de crédito pioraram”, pondera Miguel Ribeiro, vice-presidente da Anefac (associação de executivos de finanças).
Em relação aos preços, a tendência é de reajuste próximo ao da inflação, com valorização maior para os bairros mais disputados.
No quadro geral, o comprador ganha poder de barganha e margem para dar a palavra final nas negociações, sem atropelo.
TOP DEZ
Dos dez distritos de São Paulo com maior número de imóveis residenciais lançados e ainda não vendidos, cinco estão na zona sul.
Segundo levantamento da Geoimovel Tecnologia Imobiliária, que faz monitoramento do mercado, há, atualmente, 1.964 unidades disponíveis para venda na Vila Andrade, distrito colado ao Morumbi e que concentra o maior estoque na cidade.
“A Vila Andrade é peculiar. O distrito atraiu empreendimentos por ter terrenos maiores e mais baratos em relação aos vizinhos e oferecer uma alternativa a quem quer morar próximo ao Brooklin pagando menos”, diz Carlos Borges, presidente-executivo da construtora Tarjab.
Apesar da concentração das ofertas na zona sul, as construtoras avaliam que há demanda para a região e que a cidade está bem atendida.
Estará servido também quem deseja comprar imóveis em bairros como Lapa, Itaim Bibi e Pinheiros (zona oeste), República (centro) e Tatuapé (zona leste), que somam oferta generosa.
Para Lucas Vargas, vice-presidente comercial do site de buscas VivaReal, o cliente que procura um imóvel está cada vez mais exigente e bem informado, sabe aproveitar as boas oportunidades de preço e deve retomar a disposição para a compra do imóvel ao longo de 2015.
“O ano passado foi atípico, de mercado volátil e calendário comprometido pela Copa e as eleições. O cliente ficou mais resistente a fechar negócios. Ele esperava por oportunidades e isso impactou nas vendas.”
MAIS FLEXÍVEL
Para este ano, é esperada uma retração das construtoras e incorporadoras no lançamento de projetos e mobilização para zerar o estoque.
Segundo as imobiliárias, a partir deste mês, o setor deve intensificar as campanhas promocionais e os descontos médios devem ficar em 20%.
“O mercado se abriu para negócios”, diz Igor Freire, diretor de vendas da imobiliária Lello. “Para segurar o cliente, os vendedores estão menos exigentes, há maior aceitação de financiamentos e de propostas vantajosas para o comprador.”
Em janeiro, na Lello, 85% das vendas ocorreram por meio de financiamento.
Freire avalia que os próximos meses serão recompensadores para quem pesquisar as oportunidades disponíveis na cidade e o comprador terá, cada vez mais, a palavra final nas negociações.
Via Folha de S. Paulo.