Para o economista, o país voltará a crescer de forma surpreendente, e não vai levar muito tempo para o panorama nacional se recuperar.
Como e de que forma o Brasil vai sair da crise econômica em que está afundado? O que vai acontecer no mercado financeiro? Para o economista Ricardo Amorim, a recuperação do país já começou e poderá ser vigorosa se o mercado externo ajudar. Em Vitória, a convite do Sicoob-ES, Amorim falou sobre a retomada do crescimento no contexto de crise, os indicadores da economia e sobre a agenda reformista do governo interino de Michel Temer.
A seguir, confira trechos da entrevista.
Na sua opinião, o pior da crise já passou?
O pior da crise brasileira claramente já passou. E isso se vê em vários indicadores. Na hora que a gente olha indicadores de inflação, de contas externas, de confiança de empresários e consumidores. Nos últimos meses, a gente começou a ver pequenas recuperações. O que isso significa é que exclusivamente olhando para o Brasil, o pior já ficou para trás. A questão é se vem uma crise externa maior puxada pela saída do Reino Unido da União Europeia. É um risco que cresceu, mas está longe de estar materializado.
A recuperação do país pode ser rápida?
Todas as vezes que o Brasil teve grandes, profundas, longas depressões econômicas, como a que a gente está vendo atualmente, na sequência a economia surpreendeu muito positivamente. Para ser mais preciso, usando os dados dos últimos 115 anos, todas as vezes que a gente teve a média de crescimento ao longo de três anos ficando negativa ou próxima de zero, na sequência o PIB cresceu pelo menos 6% ao ano ao longo de três anos. O que significa que em algum momento no futuro breve a gente vai ver uma recuperação muito forte no Brasil. A questão é quando.
Depende de quê?
Do lado brasileiro, depende da aprovação das medidas de ajuste fiscal e, do lado do cenário externo, depende do risco de uma recessão global, que cresceu com a saída do Reino Unido da União Europeia. Essa recessão não se materializando, o Brasil conseguindo aprovar essas reformas, a volta da confiança, a volta dos investimentos e geração de emprego, o que a gente vai ver vai ser um crescimento bastante forte mais rápido do que as pessoas estão imaginando.
Qual setor deve puxar a retomada da economia?
O início da recuperação econômica sempre vem nos bens de valor mais baixo, nos serviços mais baratos. Supermercados, normalmente, são os primeiros a sentir a recuperação. Por outro lado, a recuperação deve ser mais forte exatamente nos setores que mais sofreram com a crise, em particular o setor de construção civil e automotivo, onde as vendas despencaram porque tanto a confiança quanto o crédito sumiram. Essas duas coisas voltando, o que provavelmente deve acontecer já ao longo do segundo semestre, a gente deve ter uma recuperação ao longo dos anos seguintes bastante forte.
Quais são os erros e os acertos da agenda reformista que o presidente interino Michel Temer quer colocar em prática?
O governo Temer começou com uma agenda correta e uma série de medidas erradas. O problema do governo Temer é que qualquer apertadinha, ele cede. Isso é preocupante porque as duas medidas mais importantes que precisam ser implementadas e aprovadas, o corte de gastos públicos e, principalmente, a reforma da Previdência, certamente terão reações contrárias. Fica difícil o governo que cedeu a pressões de grupos como os artistas manter firmeza com relação a um grupo politicamente muito mais forte, que são os aposentados. Por outro lado, o fato é que todo ministério foi montado para duas coisas: a aprovação do impeachment e a aprovação das medidas da equipe econômica.
A Bovespa já chegou operar na casa dos 70 mil pontos, mas, já há algum tempo, tem ficado na casa dos 50 mil. O senhor acredita que ela pode voltar a subir nos próximos anos?
O mau desempenho da Bolsa no Brasil nos últimos anos foi consequência de uma série de erros na condução da política econômica ao longo do mandato da presidente Dilma Rousseff. Em particular, o fato que o tripé macroeconômico que garantiu o bom desempenho da economia e da Bolsa acabou sendo destruído, e fez com que gradualmente a economia brasileira passasse a ter um desempenho cada vez pior, somado à crise política. A Bolsa se recuperou exatamente quando houve transição política.
Para que ela continue em recuperação, o que precisa acontecer?
Duas coisas: o governo avançar no ajuste fiscal, com a aprovação do limite ao crescimento dos gastos públicos e também a reforma da Previdência. Essas duas coisas passando, a Bolsa sobe, e sobe muito. Só que tem mais um outro fator importante, que é o cenário externo. A gente precisa ver se a saída do Reino Unido da União Europeia vai ser o início de um jogo de dominós, com mais países saindo, e ainda potencialmente servindo como gatilho para fazer a bolha acionária americana e/ou a bolha imobiliária da China estourarem. Qualquer uma dessas coisas acontecendo, a gente vai ver a Bolsa caindo. Ou seja, o momento é de incerteza grande, o que significa que os altos e baixos devem ser grandes.
Fonte: Gazeta Online