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BIXIGA: o formador de palcos da cidade

por Lello Imóveis

O Bixiga é muitos: Bexiga, para quem prefere aplicar a norma culta, e Bela Vista, o nome oficial. 

O bairro central dos italianos, com suas padarias, como a Italianinha e a 14 de Julho, e das cantinas Conchetta e C. que Sabe, a Pizzaria Speranza, o boteco Amigo Gianotti e a Festa de Nossa Senhora Achiropita. 

Conheça um pouco da história deste bairro que encanta por sua presença cultural e pluralidade.

A construção de um bairro histórico

A italianidade contagiou tanto o imaginário dos paulistanos sobre o bairro que, na maioria das vezes, suas outras histórias acabam esquecidas.

Quando os italianos chegaram, a partir da segunda metade do século XIX, a área obviamente já estava ocupada. De acordo com Levino Ponciano, no livro “Os Bairros Paulistanos de A a Z”, os primeiros registros de ocupação da área remetem ao fim do século XVI.  

A localidade carrega o nome de Bexiga desde a segunda metade do século XVIII por causa de um morador que teria sobrevivido à varíola. Antes da chegada dos imigrantes, o bairro que se urbanizava precariamente era conhecido por abrigar ex-escravos africanos. Muitos que conseguiam escapar buscavam a região como abrigo – em julho de 2022 foram localizados vestígios do Quilombo Saracura na vizinhança da Praça 14 Bis. 

A presença afro é um marco importante da história do bairro e está representada hoje por lugares como a Casa de Capoeira do Mestre Ananias e a escola de samba Vai-Vai. “Quem nunca viu o samba amanhecer, vai no Bixiga pra ver, vai no Bixiga”, como cantou Geraldo Filme, em “Tradição”.

Com maior ou menor dificuldade, as duas culturas se fundiram, como quando, na música-crônica “Samba no Bixiga”, Adoniran Barbosa ia a um samba na Rua Major, na casa do Nicola. Segundo o narrador, a festa foi interrompida à meia-noite por uma grande briga. “Nóis era estranho no lugar, e não quisêmo se meter. Não fumo lá pra brigá, nóis fumo lá pra come”, cantava com seu humor e sotaque paulistano hoje alegórico.

Diversidade cultural do Bixiga

Mas o Bixiga nunca teve vocação para ser apenas tradicional. Por estar perto do centro, o lugar sempre se renovou, recebendo gente de todos os lugares. 

A partir dos anos 1950 chegaram aos poucos os nordestinos e, a partir deste século muçulmanos, africanos e latino-americanos. Eles estão representados no Al Janiah, bar, restaurante e espaço cultural árabe, no Centro Cultural Afrika, que reúne diversas etnias do continente, e nos gastrobar Clã Destino e Sol Y Sombra, bar de nome inspirado em um livro sobre futebol do escritor uruguaio Eduardo Galeano.

Essa mistura está viva no bairro dia e noite. Seja pelo jazz na escadaria que liga a parte baixa à parte alta do bairro, o Morro dos Ingleses, que um sábado por mês ocupa um espaço próximo da feira de antiguidades que é realizada aos domingos. Ou pela mistura de bares e boates tradicionais dos anos 1980, como o Café Piu-Piu e o Madame (antigo Madame Satã), com o bem mais jovem Mundo Pensante. 

O samba e o rock foram dividindo o espaço com novos sons. Um dos símbolos dessa diversidade musical carrega o nome do bairro mundo afora: a banda instrumental Bixiga 70.

Os grandes palcos do Bixiga

Desde 1948, o teatro também mostra suas caras e máscaras. É o ano em que foi inaugurado o Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, marco da arte cênica brasileira. Criado pelo empresário italiano Franco Zampari, o TBC trouxe profissionalização ao teatro brasileiro, com equipes de atores, atrizes, diretores e técnicos contratados. 

Muitos da sua primeira geração de diretores e técnicos vieram da Itália, onde já tinham carreiras expressivas. Só foi possível atraí-los para cá em razão do empobrecimento daquele país após o término da II Guerra Mundial. A lista de grandes nomes que desfilaram seus talentos por aquele palco é imensa: Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Cacilda Becker, Cleide Yáconis, Walmor Chagas, Tônia Carrero, Maria Della Costa e Sérgio Cardoso, só para citar os mais famosos. O TBC funcionou na rua Major Diogo até 2008.

Lendário Oficina

Dez anos depois, foi fundado o grupo mais antigo em atividade do teatro brasileiro: o Oficina, de Zé Celso Martinez Corrêa. A trupe, na verdade, só se instalou no Bixiga em 1961, no prédio da Rua Jaceguai, onde permanece até hoje. O projeto original, do arquiteto Joaquim Gomes, já tinha arquibancadas dos dois lados, para que as cenas fossem apresentadas no meio. O prédio é tombado desde 1983 devido a sua importância histórica para as artes.

O projeto passou por uma reformulação no início da década seguinte, comandada pela arquiteta Lina Bo Bardi (do MASP e do Sesc Pompeia) e passou a ter seu formato atual, que o integra mais à rua. Em 2015, o jornal inglês The Guardian elegeu o Arena o melhor teatro do mundo em termos arquitetônicos. Nos últimos anos, Zé Celso briga com o Grupo Sílvio Santos, que pretende construir um conjunto de prédios no terreno ao lado, o que tiraria a iluminação natural do Oficina. O diretor teatral defende a instalação de um parque ao lado.

Roda Viva: episódio histórico

O teatro Ruth Escobar, na Rua dos Ingleses, é outro marco da dramaturgia brasileira dos anos 1960 que segue ativo. Naquela década, recebeu a Feira Paulista de Opinião, um marco da reação dos artistas à ditadura cívico-militar instalada em 1964. 

Uma sessão de “Roda Viva”, escrita por Chico Buarque e dirigida por Zé Celso, foi invadida por integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que agrediram o elenco. O teatro experimental passou por outro episódio marcante quando Ruth Escobar autorizou o diretor argentino Victor Garcia a derrubar partes do prédio para montar sua versão de “O Balcão”, de Jean Genet.

Da censura aos teatros comerciais

O bairro também tem um dos principais teatros estaduais da cidade, o Sérgio Cardoso, inaugurado em 1980. Em seu palco, em 1985, a encenação do texto “O Homem e o Cavalo” – de Oswald de Andrade, sob a direção de Zé Celso – marca para os artistas do palco o fim da censura. De lá pra cá, muitas companhias criaram seus espaços no Bixiga, como os Fofos Encenam e, neste ano, o Cemitério de Automóveis.

No teatro comercial, o maior destaque é o Teatro Renault, no antigo cine teatro Paramount, construído em 1929, onde hoje são encenados os principais musicais da cidade. Em 2021, a prefeitura também inaugurou um centro cultural na região: a Vila Itororó, um antigo conjunto de casas datado dos anos 1920 onde foi construída a primeira piscina residencial da cidade, abastecida pelo córrego que lhe dá o nome.

Bixiga: mais que cultura

Mas a estrutura do bairro vai muito além da vida cultural, das casas noturnas e dos restaurantes. Há hospitais e escolas privadas, públicas e faculdades, com destaque para a Fundação Getúlio Vargas. 

Pela localização, entre a Avenida Paulista e o centro, o lugar se beneficia de acessos fáceis para diversas regiões, facilitado por avenidas como a Nove de Julho e a 23 de Maio que o cercam. Além das linhas de ônibus e metrô nas proximidades, o velho bairro vai ganhar um impulso com a abertura da Linha 6 Laranja, que terá as estações 14 Bis e Bela Vista. 

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