Há quem veja o Mercado Municipal, conhecido popularmente como Mercadão, como um oásis de história, cultura e gastronomia no meio da confusão urbana que é a área entre o centro e a zona leste da capital paulista.
Mas dá para vê-lo também como o epicentro de algo bem maior. Para ter a sensação completa, é preciso estar disposto a gastar a sola e voltar cheio de compras e novidades.
Te convidamos para um tour pelo Mercadão com a gente. Venha!
As variadas entradas do Mercadão
Uma entrada possível é pelo Largo São Bento, ao lado do Viaduto Santa Ifigênia (“Venha ver, Eugênia/Como ficou bonito/O viaduto Santa Ifigênia”, na música de Adoniran Barbosa). A estrutura metálica, pensada pelo arquiteto Giulio Micheli e desenvolvida pelos engenheiros Giuseppe Chiapori e Mário Tibiriçá, foi fabricada na Bélgica e o viaduto, inaugurado na segunda década do século passado.
De um lado está a Igreja Santa Ifigênia, que foi catedral provisória da cidade e é tombada pelo Patrimônio Histórico. Do outro lado, o Mosteiro de São Bento, com sua famosa missa em canto gregoriano e uma padaria com produtos feitos pelos próprios monges.
Uma opção para seguir é descer a íngreme Ladeira Porto Geral, um caminho onde não faltam opções em armarinhos, fantasias, bugigangas e outros produtos da Rua 25 de Março.
O passeio se justifica, principalmente nos horários de menor movimento, com uma visita à Igreja Católica Ortodoxa Antioquina de Nossa Senhora, construída por imigrantes sírios e libaneses no início do século passado. Localizada na Rua Cavalheiro Basílio Jafet, é uma das edificações mais curiosas da cidade. Seu exterior foi destruído nos anos 1950 para a construção de um prédio, enquanto todo o interior da antiga igreja foi preservado encravado na nova edificação.
As redondezas surpreendem
Antes de entrar no Mercadão, como é também chamado, vale uma visita ao Mercado Kinjo Yamato, o antigo mercado dos caipiras. Criado nos anos 1920 em um local que antes servia como estacionamento de bondes da Light, até hoje o pavimento conserva os paralelepípedos originais.
Inaugurada nos anos 1930, sua cobertura metálica vinda da Escócia seria usada originalmente em uma estação de trem jamais erguida no Anhangabaú. Seus destaques são os hortifrútis. Esses e outros legumes, verduras, queijos e vinhos, inclusive típicos de outras regiões do País e do exterior, podem ser encontrados do outro lado do Rio Tamanduateí, na chamada Zona Cerealista.
A construção do Mercadão
Já o Mercadão, tal como existe hoje, é uma invenção recente na história paulistana. Sua construção teve início nos anos 1920 e a conclusão data dos primeiros anos da década seguinte.
Seu prédio foi projetado pelo engenheiro Felisberto Ranzini, do escritório de Ramos de Azevedo, cuja equipe é responsável por outros importantes marcos da cidade erguidos na época, como o Teatro Municipal, a Pinacoteca, o Palácio da Justiça e o Palácio dos Correios.
Seus 32 painéis, subdivididos em 72 vitrais, são de autoria da Casa Conrado Sorgenicht. A empresa do artesão alemão, que chegou ao Brasil na segunda metade do século XIX, foi responsável por mais de uma centena de vitrais espalhados pelo Brasil. Além do próprio mercado, suas obras estão espalhadas em igrejas, bancos, estações de trens e museus.
Principal ponto de abastecimento da cidade
Na época de sua construção, o Mercadão era o mais importante entreposto de abastecimento da cidade, posição perdida ao longo das décadas.
A perda de relevância econômica se tornou ainda mais acentuada a partir dos anos 1960, com a criação da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), a partir da fusão de duas empresas mantidas pelo governo do Estado de São Paulo: o Centro Estadual de Abastecimento (Ceasa) e a Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Cagesp).
O Ceagesp, que foi federalizado em 1997, é o terceiro maior mercado atacadista do mundo e o primeiro da América Latina.
Restauração do Mercadão
Apesar de continuar atraindo moradores e comerciantes da região, o Mercadão vivia tempos de decadência e até mesmo chegou a ser cogitada a sua demolição. A situação mudou no início dos anos 2000, quando a Prefeitura decidiu por sua restauração.
A obra deu impulso para a vocação turística do prédio e a retomada de suas tradições, como os exagerados sanduíches de mortadela e o pastel de bacalhau. As bancas de frutas, empórios, peixarias, quitandas, mercearias, laticínios e açougues investiram em produtos raros e de alta qualidade.
A grande mudança, no entanto, foi a construção de um mezanino de dois mil metros quadrados que abriga a praça de alimentação. Bares, restaurantes, cervejarias, lanchonetes e docerias de diferentes especialidades se instalaram no lá em cima e consolidaram o Mercadão na gastronomia paulistana.
Turismo na região central
Para quem está no pique de esticar o passeio, do outro lado do Rio Tamanduateí, está o Museu de Ciências Catavento, também com projeto do escritório de Ramos de Azevedo e vitrais da Casa Conrado Sorgenicht. Dedicado principalmente ao público infantil, o espaço é dividido em quatro áreas de conhecimento: universo, vida, engenho e sociedade.
O Palácio das Indústrias, onde está o museu, foi fundado na primeira metade dos anos 1920 e abrigava exposições industriais. A partir da década de 1940, foi a sede da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde ficou por 20 anos, até a inauguração da sede atual, próxima ao Parque Ibirapuera.
Nas décadas seguintes, passou por um processo de deterioração, com diversas repartições públicas estaduais utilizando o prédio. A situação só mudou nos anos 1990, quando a Prefeitura decidiu transformar o palácio em sua sede.
A restauração do prédio tombado foi projetada pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, responsável por obras como o Museu de Arte de São Paulo, o Masp, e a adaptação da fábrica que hoje abriga o Sesc Pompeia, e o atual projeto do Teatro Oficina. Com a mudança da sede da gestão municipal para o Viaduto do Chá, o palácio passou a abrigar o museu.
Novas opções culturais
As opções culturais na região não devem parar por aí. Bem em frente ao Mercadão, onde ficava o deteriorado Edifício São Vito, o Sesc está construindo mais uma de suas unidades. Com uma área triangular de 9 mil metros quadrados, a nova sede terá salas de espetáculo, áreas de convivência, quadras esportivas, piscinas e jardins.
A região deve receber ainda um novo museu, construído em mais um prédio tombado, a Casa das Retortas. O projeto do governo estadual é fazer de lá, um marco no fornecimento de gás para a cidade, o Museu da História de São Paulo.
A sede da companhia de gás traz referência a outro fato histórico de suma relevância nacional. Ali perto, em 14 de abril de 1895, na então gramada várzea do Carmo, atual Largo do Gasômetro, foi disputada uma partida entre funcionários da São Paulo Gaz Company e a São Paulo Railway Association.
O primeiro jogo de futebol disputado dentro das regras no Brasil terminou com a vitória dos ferroviários por 4 a 2. O amistoso só foi possível pela presença do britânico nascido no Brasil Charles Miller, que ao retornar do Reino Unido para trabalhar na ferrovia com seu pai trouxe as primeiras bolas, uniformes e um livro com as regras do que então era chamado de esporte bretão.
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