A crise econômica aumenta o volume de unidades em estoque e leva as incorporadoras a realizar grandes promoções de vendas.
Até alguns anos atrás, no auge da “bolha imobiliária”, os paulistanos interessados em adquirir um apartamento novo passavam maus bocados para adequar seus planos ao aumento constante de preço. O consumidor fazia as contas para encaixar a aquisição no orçamento, mas era forçado a jogar fora o cálculo pouco tempo depois, pois o cenário já havia mudado.
A atual crise econômica e a consequente retração nas vendas alteraram bastante esse panorama. Nos últimos tempos, um cenário de drástica redução no ritmo de inauguração de empreendimentos tem beneficiado os compradores. A mais recente Pesquisa do Mercado Imobiliário do Sindicato da Habitação (Secovi-SP) representa um bom termômetro do momento do setor. De um ano para cá, o total de unidades novas oferecidas no mercado daqui foi de 21 200, a menor quantidade desde 2004.
As construtoras brecaram o andamento das obras porque estão com estoque alto na cidade: há cerca de 26 000 imóveis ainda sem proprietários. Por isso, o esforço atual está concentrado em comercializar o que já se encontra disponível na praça. Segundo o Secovi, em fevereiro de 2016 ocorreram 836 vendas de apartamentos novos, contra 732 no mesmo período de 2015, uma evolução de 14%. Boa parte desse resultado foi obtida com a ajuda de promoções agressivas.
Os descontos das incorporadoras chegavam, no começo de abril, a 30% sobre o preço dos imóveis “O que está ocorrendo é um ajuste, necessário diante da alta dos últimos anos, motivada pelo aumento do crédito imobiliário”, explica o diretor de vendas da Lello Imóveis, Igor Freire. “Para quem tem condições de investir, é o melhor momento.” Com esse quadro, os especialistas no mercado recomendam ao consumidor barganhar o máximo possível. “O momento é de pechinchar, sempre cabe uma contraoferta, e as empresas a estão aceitando”, afirma o presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP), José Augusto Viana Neto. Alguns paulistanos têm aproveitado a onda.
Casados há quatro anos, o gerente financeiro Alexandre Fonseca e a profissional de recursos humanos Elizangela Fonseca buscavam havia tempos um bom projeto, de uma construtora confiável e com localização razoável para os deslocamentos de ambos. Após muita procura, eles conseguiram recentemente um desconto de 20% na compra de um apartamento de três dormitórios e 112 metros quadrados, na Barra Funda, na Zona Oeste. “Esperamos a hora certa para comprar”, diz Fonseca. Depois de finalizar as obras de acabamento e decoração, eles devem entrar no apartamento e pôr em prática um novo projeto pessoal. “Agora, ganhamos espaço e conforto para ter um bebê e receber as avós”, completa o gerente.
Com 50% menos lançamentos em relação a 2015, a imobiliária Lopes passou a promover campanhas nas quais várias incorporadoras ofertam seu estoque e com descontos cada vez mais atraentes. “Na primeira edição, no ano passado, o bônus médio havia sido de 12%. Em março, chegou a 21%”, afirma a diretora de atendimento do grupo, Mirella Parpinelli. Há ainda quem aposte em feirões, como a Even, que oferece condições especiais e abatimentos a partir de 10%. Em março, a empresa chegou a pôr no mercado unidades com desconto de até 50% para unidades em vários de seus empreendimentos. Tudo foi vendido em quinze dias. Não há previsão de data para o próximo saldão do tipo.
Em outros negócios, as estratégias de promoção variam. “Aceita-se imóvel como parte da entrada, as parcelas não são corrigidas até a entrega das chaves ou oferecem-se desde ar-condicionado, passando por móveis embutidos ou cozinha equipada, até um ano de condomínio pago ou de compras de supermercado”, exemplifica Bruno Vivanco, vice-presidente comercial da Abyara Brasil Brokers, a maior lançadora de imóveis do mercado. Nesse cenário, imóveis prontos e semiprontos — muitos fruto de desistência de antigos compradores — são as estrelas. As unidades em obras são oferecidas em média por 8% menos do que a tabela, enquanto os finalizados têm desconto de 10%.
Nos estoques mais antigos, a queda pode chegar a 25%. “Por vezes, é possível negociar reduções maiores. Tudo depende da localização e da quantidade de apartamentos disponíveis no empreendimento”, afirma Marcelo Molari, CEO da empresa de monitoramento imobiliário Geoimovel. Para os especialistas, o momento é favorável sobretudo para quem tem como bancar a entrada à vista ou dispõe de garantia de estabilidade no emprego. “Estamos diante de uma das maiores janelas de oportunidades da para os compradores”, entende Rogério Santos, CEO da ponta de estoque de imóveis RealtOn.
Veja SP – 22 de abril de 2016.